domingo, 19 de outubro de 2014

[Aprendizado] 10 dicas para os pais educarem melhor os seus filhos

Olá!
Sabe, tenho quase 30 anos e ainda não sou mãe; então, antes que vocês pensem um "com que direito esta menina quer se meter na educação dos meus filhos?", quero contar um pouco de onde tirei a ideia para esta postagem.

O fato é que eu trabalho com crianças dos 4 aos 12 anos. E eu vejo que muitos dos problemas que elas têm na escola não são culpa delas, mas sim do que elas veem em casa. Muitas vezes, nas conversas entre os professores surge um "mas se os pais de Fulano agissem de tal forma, ele seria tão melhor no aspecto X...". Por isso este post. Esta listinha de conselhos é quase um desabafo. Ela reúne aquilo tudo que eu gostaria de dizer para todos os pais dos meus alunos e para todos os meus amigos que são pais e que, por algum motivo qualquer, guardo para mim.

Imagem por Leonid Mamchenkov.

1. Valorize DE FATO os pequenos gestos.

Tenho um educando na turma do 2º ano (ele tem 7 anos), que é extremamente carente. Acha que eu estou exagerando?! Pensem que ele é do tipo que escreve uma palavra e vem me mostrar. Depois escreve outra e vem me mostrar. E depois outra e outra e vem me mostrar... Ele precisa de aprovação a cada etapa e a cada momento. Falta-lhe segurança. Durante esta semana, estávamos em uma atividade coletiva (com todas as turmas e professoras de todo o ensino fundamental I), e ele não parava quieto, por isso disse: "Vem cá, fique aqui com a teacher" e lhe dei a mão. A primeira reação dele foi: "Mas a minha mãe não pega na minha mão". Espanto? Pois é. Imaginem a minha cara de "poxa vida!". É claro que eu engoli seco, fiz uma piadinha e continuei de mão dada com ele. E é claro que ele se acalmou.
Por isso, meu recado é: valorize de fato os pequenos gestos. Pegue na mão, beije, abrace muito. Mesmo quando você achar que não é importante, lembre-se: você está pensando com a cabeça de um adulto, as crianças pensam e sentem de forma diferente.

2. Não diga para uma criança o que você não diria a um adulto.

Quem nunca viu um adulto virar para uma criança e dizer: "seu idiota", "seu lerdo", ou tratamentos até piores?! (Palavrões, oi!) 
Sempre que vejo este tipo de atitude acontecendo diante dos meus olhos penso como este adulto se sentiria ao ser tratado desta forma. Aqui temos dois pontos importantes: 1. a criança ainda está em processo de aprendizagem. O que é brincadeira para um adulto, para ela pode ser levado muito a sério (muitas vezes elas passam a acreditar tão piamente que são "lerdas" e "idiotas", que agem como tal); 2. de tanto ouvir insultos, a criança passa a pensar que isso é normal e passa a reproduzi-los em todos os ambientes (ela ainda não consegue diferenciar que em tal lugar pode usar um tipo de linguagem e que em outro não pode). Com isso, ela passa a tratar os colegas e professores da mesma maneira que os pais a tratam. Alguns muitos casos de bullying começam assim.
Portanto, meça muito as palavras antes de dizê-las na frente de uma criança. Não diga nada que você não gostaria de ouvir ou que não gostaria de vê-la dizendo. Os pais e familiares mais próximos (irmãos, avós...) são os primeiros modelos e os que elas têm como ideal - logo, elas dirão o que eles dizem.

3. Não use características físicas como forma depreciativa.

Continuando com assunto "o que é dito para as crianças", não use as características físicas como forma de colocar as crianças para baixo. Vejo alunos que não se aceitam desde muito cedo, porque usam óculos, são gordos (ou são magros, mas se sentem gordos!), têm o cabelo crespo, são muito brancos etc... Se o seu filho é saudável mesmo que, por exemplo, seja muito alto ou mais gordinho, sinta-se feliz com isso. Jamais use uma característica física para chamar a atenção, dar broncas ou qualquer coisa parecida, porque as crianças guardam e sofrem por isso. Cuidado ao afirmar que só é bonito quem está dentro dos ditos padrões de beleza da sociedade, porque são raríssimas as pessoas que se enquadram neles - e como as crianças ainda estão em formação, há uma tendência de quererem se enquadrar nos padrões para agradar os pais e os amigos.
Lembre-se: as crianças querem ser importantes para quem é mais importante para elas - estar bonito faz parte do pacote.

4. Pense na adaptação do(s) filho(s) mais velho(s) na chegada de um irmão.

A sensação que tenho é que, quanto menor a criança, mais ela vai fazer coisas erradas para chamar a atenção assim que descobre que terá um irmãozinho. Quando o bebê chega então, os problemas se multiplicam. Embora eu fale de maneira empírica, acredito que haja muitas pesquisas a este respeito, todas elas recheadas de dicas de como lidar com o ciúme que - por mais que a gente não queira, chega junto (www).
Minha sugestão é: tenha um momento só com o filho mais velho, um só com o filho que chegou e um terceiro em que todos interajam:
  • No momento só com o mais velho, mostre a ele que o carinho, amor e respeito continuam existindo, mesmo com a chegada do irmão.
  • Nos momentos juntos, mostre para o mais velho que o mais novo precisa de atenção por ser mais frágil e dê a ele tarefas no cuidado do menor (nem que a tarefa seja ir buscar uma fralda limpa no armário). Se o mais velho se sentir importante e co-responsável pelo cuidado do menor, muitos problemas deixarão de existir.
  • No momento só com o mais novo, enfatize para o maior que, assim como vocês têm um momento exclusivo, o menor também tem este direito e que esta não é uma forma de rejeição.

5. Não fale mal daquela matéria / assunto escolar só porque VOCÊ não gosta / não se deu bem.

Sou professora de inglês. Muitos dos pais dos meus educandos estudaram a minha disciplina no tempo em que tudo o que os docentes deles faziam era falar do verbo to be independentemente do nível linguístico da turma e do assunto estudado. E o que isso tem de importante?! Bem, 99% dos meus alunos que vão mal na minha disciplina são porque os pais interferem negativamente nos estudos dos filhos - mesmo sem ter a intenção. 
Vejam só: na maioria das vezes, o estudante começa a ir mal, então proponho conversar com os pais. Eles chegam tímidos, ouvem o que tenho a dizer e começam a falar com a seguinte afirmação: "Eu odeio inglês, por isso me perco em como orientar nas tarefas de casa". 
O fato é que todo mundo tem o direito de odiar o que quiser. Eu mesma detesto Física e Química. Mas também é fato que, se uma criança ouve de seus responsáveis que não sabe para quê isso vai ser útil ou o famoso "o inglês não entra na minha cabeça", ela vai assumir que, para ela, aquilo não será útil e que, se não entrou na cabeça dos pais, como entrará na dela, que é apenas uma criança?!
Então, o que eu diria é: guarde a sua opinião para você e apoie os estudos com o mesmo entusiasmo em todas as disciplinas até que o seu filho seja grande o suficiente para compreender que o fato de você ser o pai ou a mãe dele não implica em vocês dois terem as mesmas habilidades (eu, honestamente, espero de coração que os meus futuros rebentos tenham mais sorte com Física e Química do que eu tive!).

Imagem por jacme31

6. Dê importância às tarefas de casa.

Certo dia, estava na fila de entrada minutos antes de bater o sinal. Era quinta-feira de manhã, e um dos meus educandos do 5º ano aproximou-se e disse: "Teacher, eu não pude fazer a tarefa de casa, porque tive que ir a um churrasco ontem à noite". Eu fiquei tão besta que me virei para uma das inspetoras e disse: "Você ouviu isto?! Ele não fez a lição de casa, porque foi a um churrasco". O fato é que se os pais não valorizam a tarefa de casa, você acha mesmo, de verdade, que a criança vai valorizar?! Sinto muito, meu caro, mas não, não vai. Criança quer brincar, não fazer lição de casa. Por outro lado, há uma importância gigantesca em se estudar em casa porque: 1. pedagogicamente falando, este é um momento em que os educandos não têm o apoio do professor. Normalmente é nessa hora que surgem as dúvidas (que DEVEM ser esclarecidas na aula seguinte); 2. além de o aluno desenvolver a parte cognitiva, fazer a lição de casa ensina sobre o que é ter responsabilidade, afinal, esta é uma das poucas obrigações que ele tem quando criança; 3. Este é um momento de troca entrem pais e filhos. Eu sei que 90% dos pais trabalham o dia inteiro, enfrentam um trânsito estressante e ainda têm que dar conta de preparar o jantar e dar banho nas crianças e dar aquela arrumada na casa quando chegam e que, por isso, é muito mais tranquilo deixar os pequenos na frente da TV, do vídeo-game, do computador, do tablet e/ou do celular... Mas é importante para a formação deles ter um momento de troca e de carinho. Ver os pais se importando com a tarefa fará com que eles se importem também.

7. Cuidado para não atrapalhar mais do que ajuda na hora de orientar as tarefas de casa.

A dica principal aqui é: conversem com as professoras dos seus filhos. Voltando ao exemplo que dei no item 4, sobre os pais que só aprenderam o verbo to be, se eles forem orientar os filhos durante a tarefa de inglês, como eles aprenderam, só deixarão a cabeça das crianças mais confusas, uma vez que o método usado hoje é totalmente diferente da forma que eles viram. Falando especificamente dos meus alunos no inglês, algo que me atrapalha muito é pais que traduzem todo o livro. As crianças criam uma relação de dependência de um tradutor (pais, google, dicionário...), que gera um problema em sala de aula, uma vez que eu evito traduzir ao máximo. 

(Parenteses: quando eles forem para fora ou encontrarem um gringo na rua, não haverá alguém para traduzir para eles. Logo, evito traduzir, porque eles têm que criar autonomia!)

Sei - pelo o que ouço das outras professoras - que isso acontece com outras disciplinas também. Então, na dúvida, escreva um bilhete na agenda assim: "Professora, gostaria de marcar uma reunião para entender melhor como é o processo de ensino e como posso apoiar o meu filho nas atividades escolares". Tenho certeza que a professora irá lhe orientar como é a melhor forma de fazê-lo e, o que é muito importante: tanto em casa, quanto na escola, a criança ouvirá a mesma linguagem.

8. Foque no processo, não no resultado final.

Pode parecer absurdo o que vou dizer aqui, mas tenho uma aluna que já ficou de castigo porque fechou o bimestre com 9,5 e não 10 em todas (sim, você leu todas!) as disciplinas. Eu sei que é difícil aceitar, mas o seu filho não será 100% em todas as matérias e assuntos (garanto que nem você foi!). Então, foque no processo, não no resultado final. Se você sabe que o seu filho tem muita dificuldade em matemática, se você o vê o tempo todo agarrado nos livros (e nos sites e aplicativos sobre o assunto), se ele pede ajuda o tempo todo, mas no fim das contas ele fecha o bimestre com 7 ou 8, comemore o esforço que ele teve e o ajude ainda mais a estudar. Assim, ele não vai ficar com o sentimento de que todo o empenho foi em vão, mas sim de que tudo o que foi feito valeu a pena. E o que é melhor?! Ele vai querer fazer mais!

9. Dê autonomia, mas faça de forma limitada.

Fuja dos extremos: não faça tudo pela criança, mas não a deixe fazer tudo. Se você fizer tudo pelo o seu filho, ele será eternamente dependente de alguém que mande. Não dará um passo sem que um adulto esteja por perto e sofrerá quando estiver em um ambiente com outras crianças - seja por não saber o que fazer, seja porque a escola espera que ela tenha o mínimo de autonomia (numa sala com 25, 30 alunos, é impossível dar atenção a todos se nós, professores, tivermos que dizer individualmente cada ação que deve ser feita) - muitas vezes estas crianças se tornam do tipo "choronas que sempre se acham incapazes", e eu tenho certeza que não é isso que você quer para o seu filho.

Por outro lado, não deixe que a criança faça o que ela quer, porque ela é apenas uma criança e ainda não aprendeu o que é melhor (e que nem sempre o melhor é o mais gostoso e divertido). Quando uma criança diz tudo o que ela quer, assume a postura "mimada, porque eu sou o rei e o mundo gira ao meu redor". Ela costuma "bater o pé" e ser daquelas que fazem birras para tudo. 

Distribua pequenas tarefas (arrumar a cama, se trocar e tomar banho sozinho, por a mesa, alimentar os animais de estimação...), faça acordos e combinados, dê a opção de escolha limitada. Por exemplo, entre: "o que você quer comer no café da manhã?" e "hoje você pode escolher entre manteiga ou geleia no café da manhã", fique com a segunda opção. Assim a criança tem autonomia de escolha, mas esta escolha está limitada a algo saudável, não ao que ela bem quiser, já que ao fazer a primeira pergunta, ela poderia responder algo como sorvete, ou hambúrguer.

10. Nada nem ninguém substitui os responsáveis pela criança.

Por fim, acho que esta dica é um resumo de tudo o que já foi dito: nada nem ninguém o substituirá. Uma das queixas mais crescentes ultimamente é que os pais "terceirizam" a educação dos filhos para a escola. Não é à toa que o número de escolas em tempo integral cresce a cada dia - a ponto de se tornar promessa de campanha política. Mas não há amor, apoio e educação melhor do que a que vem dos pais. Seus filhos não têm culpa que vocês, pai e mãe, precisam trabalhar muito. Eles nem entendem sobre a dinâmica do mercado! Tudo o que eles esperam é que vocês cumpram o seu papel, ou seja, lhes deem amor, carinho, cuidado e respeito. 
Por mais que os professores tentem ao máximo suprir esta necessidade, nunca é a mesma coisa. 
(E, por mais que alguns pais tentem suprir a ausência com presentes, sinto dizer que, a longo prazo, isso também não funciona. Demora, mas a criança entende que o presente é para cobrir a falta de presença - e quando a ficha cai, a dor vem).

Abaixo, segue uma imagem que encontrei no flick. A carta foi escrita por Jacob, um menino de 7 anos:


Embora haja alguns enganos ortográficos, eu gostaria muito que vocês focassem na visão que o Jacob tinha. Veja a tradução:
Queridos pais,
 os pais precisam pensar sobre o que eles dizem a seus filhos. E tentar não fazer seus filhos chorar. Isso deixa as crianças loucas. E se você discutir com o seu filho, isso também vai dar nos nervos da criança. Meus pais me dizem para ir para a cama às 07:50, mas nós devemos ir para a cama às 8:00. Então, se você está sendo duro com o seu filho, diga "talvez", quando ele lhe fizer uma pergunta, por favor!
Assinado Jacob Dale Welchans
Idade 7 1984
Deu para perceber?! Tudo o que ele queria era carinho, atenção, e que os pais fossem firmes e gentis o suficiente para cumprir o combinado conforme ele foi acertado (às 8h, não às 7h50, por favor!).

Acho que é isto.
De novo: as dez dicas são baseadas em situações e comportamentos que vejo nos meus educandos. Estou longe de ser a dona da verdade, mas penso que é importante compartilhar estes conselhos. Espero que eles sejam realmente úteis!

Beijos e queijos :*

2 comentários:

  1. Olá!
    Você escreveu muitas coisas que já presenciei, na verdade posso até dizer todas. Alguns pais não sabem o quão suas opiniões para os seus filhos são importantes e como é importante que eles queiram agir sozinhos. Alguns deles pensam que vão viver para sempre para cuidar de seus filhos mas infelizmente não é assim que acontece, acho que é importante o acompanhamento dos pais quando os filhos mostram que realmente precisam ou pedem, mas algumas vezes o filho quer fazer algo sozinho por aprendizagem ou para ver se consegue mesmo mas o pai não solta do tadinho. Isso não é muita coisa agora mas quando ele crescer, vai ser difícil para ele
    Adorei o post e até acho que falei demais kk
    beijoss
    Sublimar-me

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  2. Tava vendo seus blogs e vi que colocou esse link pra mim também.
    Somos colegas de profissão porém estou bem assustada com a realidade da educação. Me diz como fazer para ter esperanças e desejar ainda trabalhar com eles?

    A Bela, não a Fera

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