sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A importância do apoio pedagógico

Clique para ampliar.
Remexendo em minha papeladas antigas, encontrei o bilhete ao lado. Na hora, meus olhos ficaram marejados. O motivo? O recado era para a jovem Fernanda, novata  como educadora no mundo da educação.

Na época, lecionava no curso de informática e cidadania de uma organização não-governamental e tinha o Bruno como parceiro de projeto (eu ensinava no período da manhã; ele, no da tarde). Nosso trabalho era coordenado pela Joyce, redatora do bilhete.

O que me chamou a atenção foi a necessidade do recado (orientações para fazer o relatório mensal do projeto) e a preocupação/apoio expresso por cada tópico/dica.

Hoje, depois de tantos anos de prática de trabalho no terceiro setor, fazer um relatório desses é algo que me parece prático. Naquela época, entretanto, era "um parto".

Rememorar tudo isso me faz pensar na importância que aquela equipe teve (e ainda tem) na minha vida (ainda que cada um tenha seguido o seu caminho). Pedagogicamente falando, carrego cada um deles comigo. Foi com eles que aprendi o quanto é importante dialogar e problematizar a nossa prática. Cada educador tem o seu jeito. Cada um constrói - junto com seus educandos - o conhecimento de uma forma. Todavia, o ser humano não vive isolado em si mesmo, coisa que vejo muitos coordenadores e educadores fazendo.

Talvez esta seja uma das minhas maiores "brigas" quando o assunto é educação no terceiro setor: a maior parte dos coordenadores que conheço pensam que seus educadores são pequenas ilhas isoladas, que devem trabalhar sozinhos, que dar aula é só "chegar e fazer". Fico pensando que tive sorte por ter tido a Joyce como coordenadora, sofreria muito mais se ela não fosse dedicada ao cargo que tinha. O exemplo do bilhete é um exemplo claro disso: como faria o meu primeiro relatório sem este roteiro?!

Ter uma coordenação boa não é ter um coordenador que lhe dá todas as respostas, mas sim aquele que ouve seus dramas/dúvidas/dificuldades e lhe guia para que você mesmo encontre um caminho. Ouvir é algo fundamental. Coordenador que não ouve, que não sabe o que o educador faz em sala de aula e não procura entender o processo de ensino e aprendizagem, não é coordenador. Se pensarmos no terceiro setor, este perfil de "não-coordenador" é vasto por aí; porque, muitas vezes, não há uma coordenação que seja essencialmente pedagógica: o gestor da ONG é o coordenador do projeto, o coordenador pedagógico, o responsável pela captação de recursos humanos e financeiros, o prestador de contas, o "educador substituto" etc. Resumindo: ele sempre tem algo que considera mais importante do que saber o quais são as angústias, dificuldades, facilidades e acertos dentro dos cursos da instituição.

Por outro lado, temos os "educadores-ilhas". Muita gente que trabalha no terceiro setor é fruto do trabalho das próprias ONGs: pessoas que foram alunas e "acabaram ficando". Grande parte delas não têm experiência anterior e adquire contato com a parte pedagógica quando começam a trabalhar na área. Alguns crescem dentro disso (cursam alguma graduação para se manter na ONG), outros desistem... Mas, o que percebo ao longo destes anos, relaciona-se ao fato de os educadores não procurarem outros colegas de profissão para trocar ideias, experiências do que deu certo ou não. Acabam se deixando levar pela rotina - que, quem trabalha em ONG sabe que é alucinante - e se fecham em si mesmo.

Quando o assunto é educação, dividir, ao meu ver, é multiplicar. Quanto mais educadores compartilham - seja com outros professores, seja com sua coordenação - mais fortalecem a sua prática. Quanto mais os coordenadores ouvem e orientam, mais robusto fica o trabalho desenvolvido. Dividir nos oxigeniza as ideias. Dividir tira aquela sensação de que estamos sozinhos, "lutando contra uma geração perdida" (como já ouvi um educador dizer certa vez). Dividir é apoiar um ao outro; mas, mais do que isso, é se apoiar também.

Fico feliz por saber que pude dividir (ou melhor dizendo, multiplicar) com a Joyce e com o Bruno. Hoje olho para trás, vejo o quanto caminhamos e me orgulho muito disso. 

___________
PS: Sei que há boas ONGs, coordenadores e educadores por aí. Como diria Paulo Freire: "temos que ter esperança".

2 comentários:

  1. Feee, como ler esse post caiu em um bom momento. Estava justamente refletindo sobre isso esses dias, sobre essa relação coordenador x educador. E também sobre as diferentes realidades dentro do Terceiro Setor. Claro que a boa vontade é muito importante, mas não é só dela né que se constrói educação de qualidade. Enfim, uma coisa bem bacana é fazer trocas entre educadores. Quanta gente não vive realidades semelhantes e tem experiências ricas para compartilhar?
    Acho que esse post é também um convite aos educadores compartilharem o que sabem, seus sucessos e desafios, com seus coordenadores e com outros educadores em geral.

    Parabéns Fe!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Fê, meu desejo é exatamente este: provocar a discussão. Espero que os coordenadores e educadores (sejam eles do Terceiro Setor ou não) possam divulgar mais o que fazem... Sei lá, as pessoas têm medo de compartilhar pela angústia de serem julgadas. Isso é muito ruim, porque impede o crescimento.

      Fico feliz por você ter gostado.

      um beijo,

      Excluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...