sexta-feira, 4 de maio de 2012

Ter ou não ter?! Refletindo sobre o presente e o futuro no Terceiro Setor



Hoje fui visitar uma instituição que está em gestação. Explico: fui a uma instituição que está nascendo, começando quase que do zero. Então, não podia deixar de compartilhar a minha experiência de anos em ONGs de ressaltar o que vejo de bom pelas instituições que acompanho e de alertar para os erros mais comuns ou para os aspectos que merecem mais atenção.

Ao fim do encontro, estava exausta, mas feliz por ter ajudado numa reflexão profunda e intensa que a direção recém-constituída terá. Foi interessante poder resgatar aquela garotinha que começou fazendo um trabalho voluntário e que, de uma forma ou de outra, cresceu, sobreviveu. Parece que não, mas 8 anos de buscas, improvisos e adaptações fazem muitas diferenças.

O “por onde começar?” que pairava e a alternativa que 99% das organizações veem ganhou uma ponderação: vale mesmo a pena ser dependente de convênios da Prefeitura?

É claro que ser parceiro de um órgão público passa/serve a todos como uma mensagem de “somos organizados, sérios”. Não é qualquer um que consegue ser um prestador de serviço do poder público seja em qual área for – educação, assistência social, saúde e cultura (que são as mais comuns). Por outro lado, depender tão somente desta verba é enfraquecer a sustentabilidade financeira da ONG e, embora isso pareça óbvio, é a forma como muitas instituições se mantêm...

Captar recursos é algo cada vez mais difícil no terceiro setor. Se de um lado temos órgãos públicos e privados querendo investir nos diversos trabalhos realizados; de outro, encontramos um grau de exigência cada vez maior. Ter clareza em quem é o público atendido, qual é o objetivo do trabalho realizado e provas do que é feito ajuda e muito! O investidos quer saber onde o dinheiro/tempo/recursos físicos dele é investido e a organização tem que lhe apresentar um panorama seja quantitativamente (números de cursos, de pessoas inscritas, desistentes e formadas etc.), seja qualitativamente (como o trabalho impacta na vida das pessoas, como transforma a vida da comunidade local etc.). Ter todos estes dados à mão é fácil quando se é organizado e se tem indicadores que possam mensurar tudo isso.

Estas e outras reflexões foram as que eu apresentei para a equipe com quem me reuni. Parece que não, mas tudo isso, todas estas escolhas e processos são difíceis para quem está começando. Tantos problemas sociais a serem enfrentados, por qual e – o que é mais difícil – como começar?! São muitos os pormenores envolvidos: formalização, mapeamento e atendimento da população alvo, captação de recursos, comunicação, registro, formação de equipe e da equipe, elaboração de um projeto político-pedagógico, criação de vínculo com a comunidade, toda a parte administrativa e de infraestrutura...

Nesta vida já vi muita gente que acha que o trabalho do terceiro setor é fácil, é simples, é doado ou, como costumo dizer na informalidade, “é várzea”; quando, na verdade, as instituições estão buscando cada vez mais provar que o seu trabalho é tão sério quanto o do secundo setor. Esta seriedade é, sem dúvida, o caminho.

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