sábado, 18 de junho de 2016

Inclusão: educar para todos, com todos

“Nenhum objetivo deverá ser considerado atingido se não for atingido por todos os alunos”. (Declaração de Incheon)


Ontem (17), estive na Universidade São Judas Tadeu, para assistir a uma palestra com o professor David Rodrigues (Universidade de Lisboa). O tema do encontro era Inclusão: educar todos, com todos, e o professor traçou um panorama da inclusão em Portugal, das diferenças com o Brasil e dos próximos passos a serem seguidos nos dois países.

Imagem feita pela professora Dineia Hypolitto.


Panorama português 

Em Portugal, as escolas destinadas a pessoas especiais foram fechadas, sendo que seus alunos foram transferidos para a escola regular (que é pública e de tempo integral). Os profissionais (terapeutas ocupacionais, psicólogos, fonoaudiólogos) que anteriormente trabalhavam nas escolas que foram fechadas, também foram transferidos para as regulares, para compor a equipe pedagógica e apoiarem os professores no trabalho docente. Com esta reforma no ensino, 98% dos alunos com deficiência frequentam a escola. 

É claro que ainda há muita dificuldade. Portugal foi assolado severamente pela crise, portanto, os recursos direcionados à educação são claramente insuficientes. Além disso, ainda há uma grande preocupação lusitana com o que eles chamam de TVPE (transição para a vida pós-escolar), pois o currículo está muito distante do que os alunos vivenciam quando terminam a vida acadêmica.

Em Portugal todos os professores de educação básica são mestres (cursam três anos de curso científico – disciplina específica, algo como o nosso bacharelado – e dois anos de mestrado. Aqueles que desejam ser especialistas em inclusão, ainda cursam uma especialização – que é parecida com a brasileira). Os professores especialistas em inclusão não trabalham diretamente com os alunos, eles ajudam a comunidade escolar a desenvolver o currículo, atividades para os alunos, formação para os professores, etc.

O que é inclusão? 

Partindo deste panorama, o professor David Rodrigues resolveu discutir o conceito de inclusão. Segundo ele, se um espaço diz ser totalmente inclusivo, deve-se desconfiar. Inclusão é um processo permanente, que se desenvolve de forma constante. 

Segundo a UNESCO, inclusão é:
  • Um processo;
  • Relativo à presença (participação e sucesso de todos os alunos);
  • Identificação e remoção de barreiras à aprendizagem;
  • Destinado em particular aos alunos em risco de marginalização, exclusão. 

Partindo disso, uma escola inclusiva é aquela em que todos os alunos participam dos mesmos objetivos, ainda que de forma de forma diferenciada. Sendo assim, a equipe de gestores deve ter atenção para que seus procedimentos não criem barreiras à aprendizagem (como a falta de tempo versus a quantidade de conteúdo). Uma escola inclusiva segue uma filosofia de inclusão. Ela não é uma única pessoa ou uma sala. Nas palavras de David Rodrigues, “Inclusão é o valor de uma escola”. Ele ainda afirma que há uma tensão entre perspectiva benigna de inclusão e uma perspectiva crítica de inclusão. No senso comum, as pessoas tendem a pensar que todo o tipo de inclusão é bom, mas pode haver má inclusão se a política educacional for ruim.

Para aprofundar o conceito de inclusão, o professor David Rodrigues indicou dois documentos: 
Declaração de Lisboa sobre a Equidade Educativa e Declaração de Incheon – Educação 2030: rumo a uma educação de qualidade inclusiva e equitativa e à educação ao longo da vida para todos


Por que é que a inclusão é importante? 

1. Para manter uma relação entre riqueza do ambiente e qualidade e quantidade de aprendizagem (referência: teoria da neuroplasticidade, conflito cognitivo, teoria da mente). O que acontece é que a escola oferece para quem precisa de inclusão um ambiente pobre. Isso é errado. Quem somos nós para privar uma criança sem deficiência de conviver com uma criança que precisa de inclusão (e vice-versa)? 
2. Para que os alunos conheçam e partilhem percursos de aprendizagem diferentes. Isso contribui para a consolidação dos nossos conhecimentos e acrescenta valor à aprendizagem. Quando um aluno ensina outro, ele aprende mais. Os professores não podem ter medo disso.


3. As pessoas estão preparadas para aprender por imitação, observação e reflexo sobre as ações dos outros (referência: teoria dos neurônios-espelhos).
4. Para desenvolver sentimentos e atitudes de solidariedade e de valorização do outro (Referência: livro do António Damásio, O erro de Descartes)

Para fazer uma educação inclusiva a aprendizagem e o ensino devem conversar com os estilos de aprendizagem de todos os alunos. Além disso, a equipe docente deve se adequar a forma de ensinar às novas formas de aprender (e-generation) e a equipe gestora deve se questionar sobre as mudanças necessárias para sair da forma transmissora, profecêntrica e tradicional de ensino. 

A educação inclusiva não floresce sem qualidade de ensino, por isso está relacionada ao sistema e à filosofia adotados pelo espaço educacional. Para que haja inclusão, a excelência, a qualidade, o tempo e o trabalho pedagógico deverão se voltar a todos os alunos, de forma que ninguém fique para trás. 

Uma escola inclusiva oferece:
  • Medidas que dignifiquem o trabalho dos professores;
  • Apoio precoce e competente às dificuldades de aprendizados dos alunos;
  • Diferenciação e enriquecimento curricular (de forma que a transição para a vida pós-escolar seja eficiente);
  • Organização, formação da equipe e missão claras (o que leva ao seu fortalecimento). 


Um professor inclusivo tem clareza das novas formas de aprender e dos recursos que têm disponíveis. Ele sabe, por exemplo, que a organização dos grupos entre os alunos é um elemento pedagógico (e que não é para separar por gênero, por locais em que os alunos estão, ou deixar que os educandos formem grupos sem critérios). 

No Brasil

O professor David Rodrigues analisa que há uma defasagem muito grande entre a teoria/política educacional e a prática do dia a dia. Ele afirma ainda que as escolas brasileiras são frágeis, porque muitas delas têm ideias ao léu, sem uma intencionalidade, e trabalham “apagando incêndios”. Uma escola inclusiva, ao contrário, deve ter convicção de que vai conseguir resolver todos os problemas.


Por fim, como começar a discutir a inclusão? 

A equipe pedagógica e gestora deve se perguntar: Quais são as barreiras que impedem o aprendizado dos alunos? Normalmente, as primeiras respostas que surgem são relacionados ao que vem de fora da escola (a família dos alunos que não apoiam, a falta de política pública adequada, a falta de tempo, etc.); depois, surgem as respostas mais concretas, que ajudam a apoiar e identificar precocemente as barreiras de aprendizagem.

Para saber mais:




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