“Nenhum objetivo deverá ser considerado atingido se não for atingido por
todos os alunos”. (Declaração de Incheon)
Ontem (17), estive na Universidade São Judas Tadeu, para assistir a uma palestra com o professor David Rodrigues (Universidade de Lisboa). O tema do encontro era Inclusão: educar todos, com todos, e o professor traçou um panorama da inclusão em Portugal, das diferenças com o Brasil e dos próximos passos a serem seguidos nos dois países.
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Imagem feita pela professora Dineia Hypolitto. |
Panorama português
Em Portugal, as escolas destinadas a pessoas especiais foram fechadas, sendo que seus alunos foram transferidos para a escola regular (que é pública e de tempo integral). Os profissionais (terapeutas ocupacionais, psicólogos, fonoaudiólogos) que anteriormente trabalhavam nas escolas que foram fechadas, também foram transferidos para as regulares, para compor a equipe pedagógica e apoiarem os professores no trabalho docente. Com esta reforma no ensino, 98% dos alunos com deficiência frequentam a escola.
É claro que ainda há muita dificuldade. Portugal foi assolado severamente pela crise, portanto, os recursos direcionados à educação são claramente insuficientes. Além disso, ainda há uma grande preocupação lusitana com o que eles chamam de TVPE (transição para a vida pós-escolar), pois o currículo está muito distante do que os alunos vivenciam quando terminam a vida acadêmica.
Em Portugal todos os professores de educação básica são mestres (cursam três anos de curso científico – disciplina específica, algo como o nosso bacharelado – e dois anos de mestrado. Aqueles que desejam ser especialistas em inclusão, ainda cursam uma especialização – que é parecida com a brasileira). Os professores especialistas em inclusão não trabalham diretamente com os alunos, eles ajudam a comunidade escolar a desenvolver o currículo, atividades para os alunos, formação para os professores, etc.
Em Portugal todos os professores de educação básica são mestres (cursam três anos de curso científico – disciplina específica, algo como o nosso bacharelado – e dois anos de mestrado. Aqueles que desejam ser especialistas em inclusão, ainda cursam uma especialização – que é parecida com a brasileira). Os professores especialistas em inclusão não trabalham diretamente com os alunos, eles ajudam a comunidade escolar a desenvolver o currículo, atividades para os alunos, formação para os professores, etc.
O que é inclusão?
Partindo deste panorama, o professor David Rodrigues resolveu discutir o conceito de inclusão. Segundo ele, se um espaço diz ser totalmente inclusivo, deve-se desconfiar. Inclusão é um processo permanente, que se desenvolve de forma constante.
Segundo a UNESCO, inclusão é:
- Um processo;
- Relativo à presença (participação e sucesso de todos os alunos);
- Identificação e remoção de barreiras à aprendizagem;
- Destinado em particular aos alunos em risco de marginalização, exclusão.
Partindo disso, uma escola inclusiva é aquela em que todos os alunos participam dos mesmos objetivos, ainda que de forma de forma diferenciada. Sendo assim, a equipe de gestores deve ter atenção para que seus procedimentos não criem barreiras à aprendizagem (como a falta de tempo versus a quantidade de conteúdo).
Uma escola inclusiva segue uma filosofia de inclusão. Ela não é uma única pessoa ou uma sala. Nas palavras de David Rodrigues, “Inclusão é o valor de uma escola”. Ele ainda afirma que há uma tensão entre perspectiva benigna de inclusão e uma perspectiva crítica de inclusão. No senso comum, as pessoas tendem a pensar que todo o tipo de inclusão é bom, mas pode haver má inclusão se a política educacional for ruim.
Para aprofundar o conceito de inclusão, o professor David Rodrigues indicou dois documentos:
Declaração de Lisboa sobre a Equidade Educativa e Declaração de Incheon – Educação 2030: rumo a uma educação de qualidade inclusiva e equitativa e à educação ao longo da vida para todos.
Por que é que a inclusão é importante?
1. Para manter uma relação entre riqueza do ambiente e qualidade e quantidade de aprendizagem (referência: teoria da neuroplasticidade, conflito cognitivo, teoria da mente). O que acontece é que a escola oferece para quem precisa de inclusão um ambiente pobre. Isso é errado. Quem somos nós para privar uma criança sem deficiência de conviver com uma criança que precisa de inclusão (e vice-versa)?
2. Para que os alunos conheçam e partilhem percursos de aprendizagem diferentes. Isso contribui para a consolidação dos nossos conhecimentos e acrescenta valor à aprendizagem. Quando um aluno ensina outro, ele aprende mais. Os professores não podem ter medo disso.
4. Para desenvolver sentimentos e atitudes de solidariedade e de valorização do outro (Referência: livro do António Damásio, O erro de Descartes)
Para fazer uma educação inclusiva a aprendizagem e o ensino devem conversar com os estilos de aprendizagem de todos os alunos. Além disso, a equipe docente deve se adequar a forma de ensinar às novas formas de aprender (e-generation) e a equipe gestora deve se questionar sobre as mudanças necessárias para sair da forma transmissora, profecêntrica e tradicional de ensino.
A educação inclusiva não floresce sem qualidade de ensino, por isso está relacionada ao sistema e à filosofia adotados pelo espaço educacional. Para que haja inclusão, a excelência, a qualidade, o tempo e o trabalho pedagógico deverão se voltar a todos os alunos, de forma que ninguém fique para trás.
Uma escola inclusiva oferece:
- Medidas que dignifiquem o trabalho dos professores;
- Apoio precoce e competente às dificuldades de aprendizados dos alunos;
- Diferenciação e enriquecimento curricular (de forma que a transição para a vida pós-escolar seja eficiente);
- Organização, formação da equipe e missão claras (o que leva ao seu fortalecimento).
Um professor inclusivo tem clareza das novas formas de aprender e dos recursos que têm disponíveis. Ele sabe, por exemplo, que a organização dos grupos entre os alunos é um elemento pedagógico (e que não é para separar por gênero, por locais em que os alunos estão, ou deixar que os educandos formem grupos sem critérios).
No Brasil
O professor David Rodrigues analisa que há uma defasagem muito grande entre a teoria/política educacional e a prática do dia a dia. Ele afirma ainda que as escolas brasileiras são frágeis, porque muitas delas têm ideias ao léu, sem uma intencionalidade, e trabalham “apagando incêndios”. Uma escola inclusiva, ao contrário, deve ter convicção de que vai conseguir resolver todos os problemas.
Por fim, como começar a discutir a inclusão?
A equipe pedagógica e gestora deve se perguntar: Quais são as barreiras que impedem o aprendizado dos alunos? Normalmente, as primeiras respostas que surgem são relacionados ao que vem de fora da escola (a família dos alunos que não apoiam, a falta de política pública adequada, a falta de tempo, etc.); depois, surgem as respostas mais concretas, que ajudam a apoiar e identificar precocemente as barreiras de aprendizagem.
Para saber mais:
- Sobre a formação de formadores inclusivos: artigo Educação Inclusiva: como reformar os reformadores;
- Sobre a luta das escolas para uma educação inclusiva: artigo em inglês, do Economist - A third way on inclusion.
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